
Conta o Dr. Nery, como é conhecido, “que no início apenas as igrejas Católica – Bom Pastor e a Adventista do 7º Dia, eram autorizadas a ingressar no presídio para celebrarem os cultos aos presos. As cerimônias eram realizadas nos corredores enquanto os presos permaneciam trancafiados nas celas por medida de segurança”.
Após o início dos cultos na cadeia, Dr. Nery começou a perceber que os presos estavam melhorando de comportamento, de atitude, até o palavreado já não era tão chulo; os presos passaram a se vestir melhor. A auto estima dos internos melhorou, mas principalmente a convivência entre os detentos ficou mais pacífica; também melhorou a relação entre os presos e o próprio delegado e seus funcionários, “ficou mais fácil administrar a cadeia” conta Dr. Nery.

Como o projeto religioso estava dando certo, Dr. Nery permitiu que outras igrejas realizassem cultos com os presos. De seis meses para cá passaram a fazer cultos as igrejas Católica – Movimento Carismático; Igrejas Metodista, Assembléia de Deus e Adventista. A cada semana outras igrejas são convidadas a realizar cultos, fazendo assim um rodízio com todas as igrejas interessadas.
O resultado foi tão bom que Dr. Nery, com autorização do juiz da comarca, idealizou outro projeto: construir uma capela nos fundos da delegacia. Convocou as igrejas a angariarem o material e os presos fariam a mão-de-obra. Oitenta e cinco dias após o lançamento do projeto da construção, a igreja estava construída completamente. Dr. Nery até mareja os olhos de emoção ao falar da alegria dele, mas principalmente dos presos, por agora terem um local próprio para a devoção religiosa.
Foram construídos, sem recursos públicos, apenas com doações das igrejas e da comunidade e mão de obra dos presos. Área total construída 160 M2, sendo uma igreja, um anexo para o pessoal da cozinha e manutenção e na sobreloja um amplo salão onde a partir de janeiro/2011 haverá aulas do CEBEJA – 1º e 2º graus para os internos. Hoje os internos já tem aulas de música, coral, violão, teclado.
Todas as noites às 20 horas tem os cultos, que não são abertos à comunidade. Hoje a cadeia tem 70 presos dos quais 32 participam do projeto religioso. Ninguém é obrigado a participar, vai quem quer, conta Dr. Nery. O resultado foi tão surpreendente que seis detentos pararam de fumar e estão influenciando outros a também parar. Tem detento que vai aos cultos de terno e gravata.
Quando da minha visita para fazer esta matéria, os detentos estavam ensaiando o coral. Dr. Nery solicitou que eles cantassem um hino para nós. Confesso eu que nunca fiquei tão arrepiado como fiquei ali naquele lugar naquela hora. Senhores, senhoras e jovens cantaram com tanta emoção e com brados fortes, como que a pedir para que Deus tenha compaixão deles. Em alguns percebi que lágrimas corriam dos olhos ao final do cântico.


Dr Zoroastro Nery do Prado Filho - delegado de Mandaguari-PR - "nenhuma fuga depois que o projeto religioso foi implantado".

